13/02/2023

Entrevista ao programa Memória Viva, da Rádio Tabajara da Paraíba

No dia 01 de abril de 2022, concedi entrevista à radialista Beth Menezes, para o quadro Memória Viva, da Rádio Tabajara da Paraíba, emissora em que atuei profissionalmente por vários anos.


O que não dizer a uma pessoa com câncer - mesmo bem intencionados, alguns comentários e sugestões podem soar de maneira negativa e até atrapalhar o tratamento

Isabella Tavares


Receber o diagnóstico de câncer é impactante e desencadeia medos e dúvidas. É como se o chão se abrisse à nossa frente. Mas é importante acreditar na possibilidade de cura. Esse é o primeiro passo para iniciar a nova fase, além de buscar o suporte necessário para avançar.
A dificuldade em lidar com essas primeiras informações muitas vezes deixa o paciente perdido e com grande receio do que está por vir. Por isso, ao conversar com alguém que foi diagnosticado com câncer, evite frases que não possam soar de maneira positiva. Por exemplo, não se recomenda dizer a um paciente com câncer que ele vai “superar isso” ou “ficar bem”. Embora essa seja uma intenção positiva, nem sempre é uma garantia e pode parecer ignorante ou insensível diante da gravidade da situação. Procure entender o que o paciente está passando para ajudar de maneira mais eficaz. Em vez disso, faça perguntas como: “Como você está lidando com isso?”, “Como eu posso ajudar?” ou “O que você gostaria que eu soubesse?”.
Aqui vão outros exemplos do que não dizer para uma pessoa diagnosticada com câncer:
Não coloque a culpa do câncer no estilo de vida da pessoa

Colocar a culpa da doença no estilo de vida ou sugerir que o câncer é um resultado de escolhas ruins que a pessoa tenha feito só piora as coisas. Na maioria dos casos, o câncer tem causas complexas e multifatoriais, incluindo fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Comentários desse tipo podem aumentar a ansiedade da pessoa que está lidando com a doença.
“Você está tão bem, nem parece que está com câncer”

Essa frase pode soar insensível porque minimiza as lutas que a pessoa está enfrentando. A aparência nem sempre reflete seu bem-estar e ela pode estar lidando com uma série de desafios, como dor, fadiga, ansiedade. O paciente oncológico não precisa ter aparência de doente por estar lutando contra a doença. Além disso, essa frase pode sugerir que a pessoa com câncer não deveria se sentir mal ou que as dificuldades que está enfrentando não são válidas. Em vez disso, pergunte como a pessoa está se sentindo e o que você pode fazer para ajudar.
Não dê conselhos que não foram solicitados

Às vezes, mesmo frases bem intencionadas podem surtir efeito negativo. É importante respeitar o espaço e as escolhas de quem está doente. Embora com boas intenções, dar conselhos não solicitados pode ser visto como invasivo e desrespeitoso. A pessoa com câncer precisa de suporte e compaixão, e não de ser forçada a seguir conselhos que ela não solicitou. Em vez disso, respeite as decisões sobre o tratamento. Se a pessoa quiser compartilhar suas preocupações ou pedir conselhos, ela irá solicitá-los. Até lá, o melhor é oferecer ouvidos abertos e apoio emocional.
Não relativize o tipo de câncer que a pessoa tem dizendo que outro poderia ser pior

Cada pessoa é única e cada tipo de câncer é difícil de lidar, independentemente do prognóstico ou da gravidade. Além disso, fazer comparações pode minimizar o sofrimento e tornar a situação mais difícil. Ofereça apoio sem julgamentos ou comparações. E reconheça que a pessoa está enfrentando desafios únicos e difíceis.
Não recomende tratamentos sem eficácia comprovada

Além de não ajudar, essas recomendações podem atrapalhar o processo de cura. É importante seguir as recomendações médicas e tratar a doença de forma apropriada.
Existe uma grande quantidade de desinformações e soluções “caseiras” que são promovidas como curas para o câncer, mas muitas vezes esses tratamentos são ineficazes e até perigosos.
Ao recomendar um tratamento não comprovado, você pode estar colocando a saúde da pessoa em risco e distraindo-a de tratamentos que possam ser eficazes.
Ofereça apoio e amor incondicional. Escute sem julgamentos e esteja lá, para a pessoa, seja para conversar ou para ajudar de alguma forma prática.
O mais importante é ser uma presença positiva e acolhedora.

Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/letra-de-medico/o-que-nao-dizer-a-uma-pessoa-com-cancer/

11/02/2023

SAÚDE MENTAL - Borderline: entenda o diagnóstico do influencer Gustavo Tubarão

Influencer falou sua trajetória com depressão, uso de entorpecentes e Transtorno de Personalidade Borderline
O mineiro Gustavo Almeida Freire, de 23 anos, ficou famoso na internet por mostrar a realidade da sua vida no campo. Hoje, o agroinfluencer acumula mais de 15 milhões de seguidores nas redes sociais. Ele foi o convidado desta semana no PodSempre, o podcast da Pague Menos que aborda temas como saúde, desafios, beleza, qualidade de vida e bem-estar. Lá, o jovem falou sobre sua trajetória profissional até os dias de hoje e os momentos difíceis vividos com a depressão, o passado com o uso de entorpecentes e, além disso, sobre o recente diagnóstico de transtorno de borderline.
Tubarão contou que recebeu o diagnóstico da condição em 2022 e que, por achar que o assunto é pouco tratado na internet, decidiu abrir o tema em suas redes. “Quando eu recebi o diagnóstico eu queria morrer. O borderline é um círculo que também é formado por depressão, ansiedade, pânico e déficit de atenção. Isso faz com que eu acorde cada dia de um jeito, sendo extremamente feliz ou extremamente triste. E para eu esquecer isso, penso que eu sou bem maior que meu laudo médico, pois eu já tinha aquilo, e com o acompanhamento do psiquiatra descobri o nome e ajuda para todos os sintomas que eu sentia. Hoje, eu gasto toda minha energia na academia para não ter mais crises como antes”, ressaltou. Transtorno de borderline
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é uma doença mental grave caracterizada por um padrão generalizado de instabilidade nas relações interpessoais, autoimagem e afeto. Além disso, a condição também é marcada por comportamentos impulsivos. Ela surge no início da idade adulta ou na adolescência, levando a grave comprometimento funcional e desconforto nas relações.

De acordo com o médico pós-graduado em psiquiatria, Dr. Vital Fernandes Araújo, uma das formas de identificar o transtorno é percebendo o padrão generalizado de instabilidade em várias áreas (relações interpessoais, autoimagem e afetos) associado à impulsividade acentuada. O especialista reforça que o borderline surge na adolescência ou início da idade adulta e pode ser reconhecido em vários contextos, geralmente com a ocorrência de cinco (ou mais) dos seguintes critérios:
1. Medo intenso do abandono, que os sujeitos tentam freneticamente evitar, seja real ou imaginário;
2. Tendência a ter relações interpessoais instáveis e intensas, que alternam entre extremos de idealização e desvalorização da outra pessoa; 3. Distúrbio de identidade, caracterizada por uma instabilidade marcada e persistente da autoimagem ou sentido do eu;
4. Impulsividade em pelo menos dois contextos potencialmente autodestrutivos (por exemplo, gastos, sexo, uso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar);
5. Comportamento suicida recorrente (gestos ou ameaças) ou automutilação;
6. Mudanças rápidas do humor levando à instabilidade afetiva – geralmente durando algumas horas e raramente mais do que alguns dias;
7. Sentimento de vazio persistente;
8. Dificuldade em controlar a raiva, que muitas vezes é inadequada ou excessiva (por exemplo, demonstrações frequentes de temperamento, raiva constante, brigas físicas recorrentes);
9. Pensamentos paranoicos transitórios e relacionados ao estresse ou sintomas dissociativos graves.

Aspectos de gravidade do borderline
O transtorno também pode apresentar apresentações variáveis, aponta o Dr. Vital. Isto é, mais comumente, causa instabilidade crônica no início da idade adulta. O resultado são episódios de grave descontrole afetivo e impulsivo, que exigem cuidados e intervenções frequentes, com taxas altas de suicídio (de 8 a 10%). “Crianças e adolescentes com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) apresentam taxas aumentadas de hospitalização por ideação ou tentativa de suicídio, comorbidades mais graves e pior funcionamento clínico e psicossocial, semelhante ao observado em adultos. Infelizmente, o diagnóstico e o tratamento do TPB são muitas vezes tardios, levando a um resultado menos favorável. Aliás, isso é especialmente verdadeiro em pacientes com TPB de início precoce (os mais jovens), nos quais a detecção e a intervenção terapêutica são geralmente atrasadas”, afirma o médico.

Tubarão também mencionou no podcast que, por conta da compulsão gerada pelo transtorno de borderline, já fez uso de entorpecentes. “Eu tive uma pré-overdose em 2017 e depois disso eu nunca mais usei. A última vez, eu usei 8 substâncias em um único dia e eu queria me jogar da janela porque comecei ter ataques de pânico durante alucinações. Foi o pior dia da minha vida. Depois desse dia eu nunca mais mexi com isso”, afirmou.
Diagnóstico e tratamento
Segundo o especialista, o diagnóstico do transtorno de borderline se baseia em quatro pilares: 1. Entrevista detalhada com o médico ou profissional de saúde mental; 2. Avaliação psicológica, que pode incluir o preenchimento de questionários; 3. Histórico médico e exames; 4. Avaliação dos sinais e sintomas.
“O tratamento de pacientes com esse deve começar com a revelação do diagnóstico e educação sobre o curso esperado e tratamento do transtorno.
Essa abordagem pode diminuir o sofrimento e estabelecer uma aliança entre o paciente e o médico. Além disso, o tratamento deve informar aos pacientes que existem terapias eficazes, que envolvem aprender a cuidar de si mesmo, e que os medicamentos têm apenas um papel coadjuvante”, esclarece.
O tratamento do borderline utiliza principalmente psicoterapia, mas medicações podem auxiliar. O médico também pode recomendar a hospitalização se a segurança do paciente estiver em risco. A reabilitação tem o objetivo de ajudar o paciente a aprender habilidades para gerenciar e lidar com sua condição. Também é necessário tratar qualquer outro transtorno de saúde mental que geralmente ocorre junto com o transtorno de personalidade bipolar, como depressão ou uso indevido de substâncias, por exemplo. “Com o tratamento, a pessoa pode se sentir melhor consigo mesma e viver uma vida mais estável e gratificante”, destaca o Dr. Vital.



Fonte: https://www.saudeemdia.com.br/saude-mental

04/02/2023

A Terapia Cognitivo-Comportamental e as crenças nucleares


A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma psicoterapia empiricamente validada no tratamento de diversos transtornos mentais e foi desenvolvida por Aaron Beck, na década de 1960, como alternativa no tratamento de pessoas com depressão que não se beneficiavam do modelo psicanalítico. A TCC é baseada no modelo cognitivo, ou seja, a maneira como o indivíduo perceba a situação é mais importante que a situação em si. Assim, o objetivo do tratamento é ajudar o paciente a mudar padrões de pensamentos e de comportamentos disfuncionais. Promovendo essa mudança, o paciente pode experienciar melhora no seu estado de humor e de funcionamento.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental se utilizam, inicialmente, combinações de técnicas cognitivas ecomportamentais, além de integrações de técnicas derivadas de outros modelos terapêuticos, como a Gestalt Terapia, a Terapia Focada na Compaixão, o Mindfulness, a Resolução de Problemas, a Picodinâmica, a Entrevista Motivacional e a Psicologia Positiva. As intervenções que o psicoterapeuta irá fazer são orientadas para situações do cotidiano do paciente.
A relação terapêutica que é pregada na TCC envolve o “empirismo colaborativo”, que vem a ser a postura colaborativa do paciente e do terapeuta na busca de alternativas e soluções para as demandas trazidas à sessão. Esse conceito implica na postura ativa dos integrantes do processo terapêutico (paciente/terapeuta).
A TCC tem um cunho educativo, por meio da psicoeducaçào, que o terapeuta utiliza para educar o paciente sobre seu funcionamento, suas possíveis patologias, o seu tratamento, suas crenças e seus pensamentos automáticos. Isso infere numa cooperação da dupla e numa posição ativa do sujeito com seu tratamento. Quando “psicoeducado”, o paciente consegue monitorar e identificar pensamentos automáticos e distorções cognitivas. A TCC pode proporcionar redução de sintomatologia para pacientes em algumas semanas de tratamento, sem enquadramento único para a duração do tratamento, porque essa questão depende do engajamento do paciente, da psicopatologia, dos objetivos terapêuticos e do uso ou não de medicação. A TCC é sensível à duração do tratamento, sendo considerada uma psicoterapia breve. O objetivo do terapeuta da TCC sempre será a melhora do paciente, respeitando o processo, e o tempo individual do sujeito em relação a suas demandas. O objetivo final da TCC é a formação de uma autonomia duradora do paciente em relação a suas cognições e comportamentos.
O que são as crenças e como elas se formam?
As Crenças Nucleares, ou Centrais, são os entendimentos mais básicos das pessoas sobre elas mesmas, sobre o mundo, outras pessoas e o futuro.
Quando as pessoas apresentam condições psicológicas significativas, suas crenças tendem a ser disfuncionais, negativas, rígidas e generalizantes. Essas crenças são formadas durante o nosso desenvolvimento. Elas se formam baseadas no modo que nossos pais e familiares levam a vida, na nossa educação em casa e na escola, e no nosso convívio com outras pessoas, como amigos e desconhecidos. As experiências que vivemos ou deixamos de viver, como traumas durante nosso desenvolvimento, ajudam, também, na formação de nossas crenças centrais, ou nucleares.
São justamente essas crenças que atuam, que geram, nossos pensamentos sobre uma determinada situação. E por conta disso, podemos ter pessoas reagindo de maneiras completamente diferentes diante de uma mesma situação. Apesar que algumas pessoas possam ter crenças parecidas sobre algo, por conta de que cada um tem uma história e desenvolvimento únicos, nenhuma pessoa terá todas as crenças iguais. As crenças podem causar grande sofrimento para as pessoas, e elas lidam com isso desenvolvendo suposições, regras para viver para justificar as suas crenças. E então, desenvolvem estratégias compensatórias (comportamentos) para diminuir o encontro com essas crenças. Se um cliente tem uma crença por exemplo de ser um fracasso, ele pode desenvolver suposições de “Se eu falhar nas minhas tarefas, isso prova que sou fracassado” e assim desenvolver comportamentos perfeccionistas para como “tenho de fazer tudo perfeito, assim ninguém saberá que eu sou um fracassado”.
As crenças podem ser divididas em 3 categorias ou esquemas: Desamparo, Desamor e Desvalor
Quando as pessoas têm crenças de desamparo, elas podem pensar que são incapazes de conseguir fazer as coisas, incapazes de protegerem a si mesmas (emocionalmente ou fisicamente) ou incapazes comparadas a outras pessoas. “Sou incapaz” “Não tenho jeito” “Não faço nada direito” “Sou vulnerável” “sou indefeso” “sou fraco” “não tenho controle” “sou um fracasso” “não sou bom como os outros”
Na crença de desamor, elas acreditam que há algo nelas que dificulta a habilidade delas de receber amor e intimidade que elas querem das outras pessoas. “Não me encaixo” “Sou desinteressante” “Não sou amável”
Na crença de desvalor, elas acreditam que são moralmente ruins, que há algo dentro delas que é simplesmente terrível. “Sou mal” “Eu não presto” “Sou ruim” “Sou tóxico” “Sou um perigo para os outros”
As crenças também podem ser sobre as outras pessoas, o mundo de maneira em geral e o futuro. “As mulheres são todas ruins” “o mundo é um lugar muito perigoso e incerto” “O futuro será muito ruim”.
Como em uma mesma situação, pessoas podem responder de maneiras completamente diferentes:

Baseado no exemplo acima:
A primeira pessoa tem um comportamento de ligar para outras pessoas para saber se aconteceu algo com o amigo que cancelou e provavelmente teve os sintomas fisiológicos da ansiedade como taquicardia e sudorese. A crença dessa pessoa sobre o mundo é de que o mundo é incerto e perigoso e que sempre que as pessoas desmarcam compromissos em cima da hora é por que algo sério aconteceu.
A segunda pessoa pode depois de sentir raiva ficar sem falar com o amigo e afetar a amizade dela. Ela considera que pessoas que fazem isso são sem educação e que é um desrespeito pois “isso não se faz”.
A terceira pessoa estava cansada, mas por ter combinado o jantar, não quis desmarcar. Não considerou nada ruim sobre a situação, remarcou com o amigo para outro dia e se sentiu aliviada por poder então descansar.
A quarta pessoa tem uma crença de que ela não é muito amável e que os outros não gostam dela. Assim, quando desmarcam algo, ela “comprova” isso pois “quando as pessoas desmarcam compromissos é porque não gostam das pessoas que marcaram”, fica então triste e chora.
Como vimos, a Terapia Cgnitivo-Comportamental é uma intervenção psicossocial que visa a melhorar a saúde mental. Originalmente, A TCC foi projetada para tratar a depressão, mas seu uso foi expandido para incluir o tratamento de várias outras condições de saúde mental. Ela foi criada em meados da década de 1950, pelo Dr. Aaron Beck, eminente psicanalista, professor de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, nos EUA. O modelo é baseado na combinação dos princípios básicos da psicologia comportamental e cognitiva. É diferente das abordagens históricas da psicoterapia, como a abordagem psicanalítica, por exemplo. A terapia cognitivo-comportamental é uma forma de terapia focada no problema e orientada para a ação.

Fontes: https://www.falcoericci.com.br/ https://www.wainerpsicologia.com.br/site/

Tenho um psicodiagnóstico: TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), e agora?

Receber o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar não é fácil. Isso porque a doença atinge diversas áreas da vida do portador (desde o humor até as relações sociais) e ainda é cercada por muitos preconceitos. Contudo, se você está se perguntando “tenho transtorno bipolar, e agora?”, saiba que o tratamento adequado pode ajudar a diminuir os sintomas, e contar com uma rede de apoio sólida faz toda a diferença. Entenda melhor:
O que é o Transtorno Afetivo Bipolar?
De acordo com a psicóloga Cláudia Memória, da Nilo Saúde, trata-se de uma doença crônica caracterizada pela variação intensa e desproporcional do humor (entre polos de mania e depressão), podendo haver (ou não) um fator estressor relacionado. A fase de mania pode começar com a sensação de aumento da energia, criatividade e sociabilidade, mas segundo a psicóloga, é mais comum o aparecimento de irritação, impaciência e convicção sobre os próprios pontos de vista. “Nesse estado, a autocrítica costuma estar reduzida, levando a comportamentos impulsivos ou mesmo raivosos. Por outro lado, na fase depressiva, os sintomas mais comuns são tristeza, falta de energia, perda do prazer, alteração do apetite, insônia ou excesso de sono, perda da concentração, redução da libido, isolamento social, lentidão ou agitação motora, pensamento de culpa, falta de esperança e ideação suicida”, afirma. “Usualmente, o transtorno bipolar não devidamente tratado gera impactos ocupacionais, familiares e pessoais. A intensidade, a frequência e o tempo de cada episódio de humor varia muito de uma pessoa para a outra”, explica a psicóloga. Se você ainda tem dúvidas sobre o que é o transtorno, eis uma breve explicação. O transtorno bipolar é uma condição que provoca oscilações de humor no indivíduo. No entanto, elas são exageradas, pois se alternam entre momentos de euforia, com picos de energia, e fases de extrema depressão. Tais picos ocorrem subitamente, mas a duração é imprecisa. De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), cerca de 6 milhões de pessoas apresentam o transtorno. Contudo, o diagnóstico do transtorno bipolar pode demorar anos – até a descoberta, o paciente enfrenta diversas dificuldades para levar uma vida normal. Por esse motivo, o número de indivíduos com TB pode ser maior do que o estimado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o transtorno bipolar é a sexta causa mais comum de incapacidade entre os adultos jovens, e os momentos depressivos parecem ser os que mais trazem prejuízos. Muitos indivíduos podem ficar perdidos, ou até mesmo abalados, após receberem o diagnóstico da doença. “Como ela afetará a minha vida?”, “será que entenderão o que eu passo?” e “o que acontecerá no trabalho?” são, por vezes, questões recorrentes. “No nosso país, existe uma brecha de cerca de dez anos entre o início dos sintomas e a identificação do transtorno. O autocuidado na fase depressiva encontra-se mais afetado, levando ao adiamento da busca por ajuda. Por outro lado, na fase hipomaníaca, a pessoa sente-se muito bem. Logo, não percebe possíveis prejuízos”, diz Cláudia Memória. Somam-se a isso os estigmas e os rótulos associados aos transtornos mentais, que dificultam ainda mais a aceitação. Contudo, a boa notícia é que o tratamento correto pode fazer toda a diferença na qualidade de vida do paciente, uma vez que ajuda a amenizar os sintomas e adiar as crises, fazendo com que elas fiquem cada vez mais espaçadas (os chamados períodos de eutimia).
Importância do tratamento
O manejo do transtorno afetivo bipolar envolve abordagens tanto farmacológicas, com o uso de medicamentos estabilizadores de humor para controlar e prevenir os episódios de mania e depressão; quanto psicoterápicas, nas quais o paciente aprende a lidar com os sintomas e recebe informações sobre o seu quadro. Além disso, pode haver a necessidade de tratar transtornos psiquiátricos associados e até comorbidades. A especialista também reforça a importância de manter bons hábitos de vida, já que muitos deles impactam diretamente no transtorno. “Vale tentar manter horários regulares para dormir, visto que uma redução na quantidade de horas de sono pode precipitar ou sinalizar uma alteração no humor.”
Papel de amigos e familiares
Mesmo seguindo o tratamento à risca, muitos pacientes ainda sentem dificuldade em lidar com o transtorno afetivo bipolar. Nesses casos, contar com uma boa rede de apoio é essencial — seja para acompanhar o indivíduo nas consultas médicas, auxiliar no bom relacionamento com a equipe de tratamento ou mesmo para estar ao lado. Outra alternativa interessante diz respeito à psicoeducação: encontros (individuais ou em grupos) nos quais são oferecidas informações e é dado o suporte para pacientes e seus familiares. O objetivo é garantir que eles tenham bons recursos para lidar com a doença por meio de trocas de experiências. De acordo com a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos), a emoção expressa de forma descontrolada muitas vezes estressa o ambiente familiar e causa conflitos constantes. Todos, incluindo o paciente, podem trabalhar para que as relações sejam mais empáticas e tranquilas, observado:
O foco das conversas deve estar nas melhoras, sem dar ênfase aos problemas;
Valorização dos pequenos progressos, mesmo que mínimos;
A evolução do quadro depende também de mudanças consistentes e contínuas nas relações familiares;
É extremamente necessário que a família também procure ajuda — afinal, a saúde mental dos cuidadores não deve ser negligenciada;
O indivíduo com o transtorno pode contribuir evitando o abuso de álcool e outras drogas e seguindo o tratamento correto.

Fonte: Espaço Vitat ( https://vitat.com.br/tenho-transtorno-bipolar/ )