30/05/2023
O cordão
No vídeo de animação “O cordão”, podemos constatar a dependência excessiva de uma criança adulta, pela falta do corte simbólico, que é uma ação psicológica que envolve a separação emocional e psicológica do indivíduo, não apenas da mãe, mas também de figuras parentais ou cuidadores.
O corte saudável do cordão umbilical é um conceito metafórico usado para descrever a conduta por meio da qual a mãe permite que seu filho se torne independente emocionalmente. Isso envolve proporcionar um ambiente seguro e facilitador, para que a criança possa explorar o mundo, desenvolver sua individualidade e tornar-se uma pessoa autônoma. À medida em que a criança cresce, a mãe suficientemente boa permite que ela assuma responsabilidades progressivamente maiores, tome decisões por si mesma e enfrente desafios sem superproteção ou interferência excessiva.
Ao promover o corte saudável do cordão, a mãe suficientemente boa permite que o filho desenvolva habilidades de resolução de problemas, autoconfiança, autonomia e resiliência emocional. Isso significa que a criança não se tornará excessivamente dependente da mãe ou de outras figuras de autoridade, nem carregará medos ou traumas profundos devido à falta de oportunidades para enfrentar desafios e aprender com as próprias experiências.
É importante ressaltar que o conceito de mãe suficientemente boa não se refere à perfeição, mas à capacidade de atender às necessidades básicas da criança de forma consistente e amorosa. Os pais também desempenham papel essencial nesse processo, contribuindo para o desenvolvimento saudável da criança, ao proporcionar um ambiente seguro e facilitador, com presença emocionalmente estável e disponível.
Germano Barbosa
29/05/2023
Parente tóxico contamina o ambiente familiar e põe em risco a saúde mental
Lidar com parente tóxico é extremamente desafiador e desgastante, especialmente quando essa pessoa causa conflitos, desavenças e discórdias dentro do ambiente familiar. É importante priorizar a segurança e o bem-estar da família, sempre que você se sinta afetado pela influência nociva que essa pessoa exerça sobre você e os demais membros da família.
Mas, afinal, o que vem a ser um parente tóxico? Parente tóxico é um membro da família que apresenta comportamentos prejudiciais e disfuncionais. Isso pode incluir pais, filhos, irmãos, tios, primos ou qualquer outro parente próximo. Esses familiares tóxicos podem ser abusivos verbal, emocional ou fisicamente, ou podem criar um ambiente tóxico de críticas constantes, manipulação e controle.
Para lidar com a adversa situação, apresentamos algumas sugestões: Estabelecer limites: defina limites claros em relação ao comportamento tóxico do parente; comunique suas expectativas de respeito e comportamento adequado e, se necessário, evite ou limite o contato com essa pessoa, para proteger sua própria saúde mental. Procurar apoio: converse com outros membros da família que também sofram com essa situação; compartilhar suas preocupações e experiências pode ser reconfortante e ajudar a encontrar soluções em conjunto. Manter a calma: é importante manter a calma e evitar entrar em confrontos diretos com o parente tóxico, pois ele pode buscar alimentar conflitos e provocar reações emocionais; responder com serenidade e assertividade pode ajudar a reduzir a tensão e evitar que a situação se agrave. Buscar suporte externo: se o ambiente familiar se tornar insuportável ou se a situação se tornar abusiva, busque aconselhamento profissional, que pode ser uma opção útil; ter um terapeuta ou conselheiro familiar ajuda a encontrar estratégias eficazes para lidar com a toxicidade e desenvolver mecanismos de enfrentamento saudáveis. Focar no autocuidado: priorize o seu bem-estar emocional e físico; procure atividades que lhe tragam alegria e relaxamento, como hobbies, exercícios físicos, meditação ou passar tempo com pessoas emocionalmente saudáveis fora do ambiente familiar; é fundamental cuidar de si mesmo, para não se deixar levar pelas artimanhas do parente tóxico. Distanciar-se ou cortar o contato: em algumas circunstâncias, pode ser necessário considerar o distanciamento ou até mesmo o corte de contato com o parente tóxico, especialmente se suas ações continuarem a prejudicar sua saúde mental e o ambiente familiar de forma significativa; essa decisão pessoal requer reflexão e pode ser útil discuti-la com profissional de saúde mental. Por fim, buscar segurança física: se a situação se tornar perigosa ou ameaçadora, não hesite em buscar ajuda imediata; entre em contato com as autoridades locais, como a polícia, se você ou outros membros da família estiverem em risco iminente. Como se vê, lidar com parente tóxico exige sobriedade, equilíbrio e ação. É importante abordar essa situação de forma consciente e assertiva, buscando estratégias que possam proteger sua saúde mental e promover um ambiente familiar mais saudável. Assim, entender os próprios limites e as emoções é necessidade fundamental. Reflita sobre como o comportamento tóxico do parente afeta você e identifique quais são suas prioridades e objetivos ao lidar com essa situação.
Germano Barbosa
23/05/2023
O mito da meritocracia
Em tese o conceito crasso de meritocracia defende que todo indivíduo é capaz de prosperar somente com suas capacidades, sem precisar da ajuda da sociedade, do Estado ou da família - um sistema que privilegia as qualidades do indivíduo, como a inteligência e a capacidade de trabalho, e não sua origem familiar ou suas relações pessoais.
Uma das críticas à meritocracia é que ela pressupõe igualdade de oportunidades para todos, o que nem sempre é o caso na realidade. Fatores como classe social, raça, gênero, acesso a recursos e privilégios podem afetar significativamente as oportunidades disponíveis para cada indivíduo. Portanto, aqueles que já estão em vantagem tendem a ter mais chances de obter sucesso e alcançar posições privilegiadas na sociedade.
Além disso, a meritocracia não leva em consideração as desigualdades estruturais e as disparidades de partida. Por exemplo, indivíduos que crescem em ambientes desfavorecidos enfrentam obstáculos adicionais, como falta de acesso a educação de qualidade, redes de contatos influentes ou recursos financeiros. Dessa forma, o mérito individual não é avaliado de forma isolada, mas influenciado por uma série de fatores externos. Outra crítica à meritocracia é que ela pode perpetuar desigualdades existentes, pois as oportunidades e os recursos estão distribuídos de maneira desigual na sociedade.
Aqueles que já estão em posições privilegiadas têm mais recursos e acesso a melhores oportunidades, o que aumenta suas chances de alcançar o sucesso. Isso cria um ciclo de reprodução de privilégios e desvantagens, em vez de promover uma sociedade mais igualitária. É importante considerar abordagens alternativas que levem em conta as desigualdades estruturais e busquem reduzir as disparidades existentes, como políticas de igualdade de oportunidades, investimentos em educação e acesso equitativo a recursos e serviços.
Dessa forma, é possível trabalhar para construir uma sociedade mais justa, onde o sucesso não seja determinado apenas pelo mérito individual, mas também pela criação de condições igualitárias para todos.
Germano Barbosa
13/02/2023
Entrevista ao programa Memória Viva, da Rádio Tabajara da Paraíba
O que não dizer a uma pessoa com câncer - mesmo bem intencionados, alguns comentários e sugestões podem soar de maneira negativa e até atrapalhar o tratamento
Receber o diagnóstico de câncer é impactante e desencadeia medos e dúvidas. É como se o chão se abrisse à nossa frente. Mas é importante acreditar na possibilidade de cura. Esse é o primeiro passo para iniciar a nova fase, além de buscar o suporte necessário para avançar.
A dificuldade em lidar com essas primeiras informações muitas vezes deixa o paciente perdido e com grande receio do que está por vir. Por isso, ao conversar com alguém que foi diagnosticado com câncer, evite frases que não possam soar de maneira positiva. Por exemplo, não se recomenda dizer a um paciente com câncer que ele vai “superar isso” ou “ficar bem”. Embora essa seja uma intenção positiva, nem sempre é uma garantia e pode parecer ignorante ou insensível diante da gravidade da situação. Procure entender o que o paciente está passando para ajudar de maneira mais eficaz. Em vez disso, faça perguntas como: “Como você está lidando com isso?”, “Como eu posso ajudar?” ou “O que você gostaria que eu soubesse?”.
Aqui vão outros exemplos do que não dizer para uma pessoa diagnosticada com câncer:
Não coloque a culpa do câncer no estilo de vida da pessoa
Colocar a culpa da doença no estilo de vida ou sugerir que o câncer é um resultado de escolhas ruins que a pessoa tenha feito só piora as coisas. Na maioria dos casos, o câncer tem causas complexas e multifatoriais, incluindo fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Comentários desse tipo podem aumentar a ansiedade da pessoa que está lidando com a doença.
“Você está tão bem, nem parece que está com câncer”
Essa frase pode soar insensível porque minimiza as lutas que a pessoa está enfrentando. A aparência nem sempre reflete seu bem-estar e ela pode estar lidando com uma série de desafios, como dor, fadiga, ansiedade. O paciente oncológico não precisa ter aparência de doente por estar lutando contra a doença. Além disso, essa frase pode sugerir que a pessoa com câncer não deveria se sentir mal ou que as dificuldades que está enfrentando não são válidas. Em vez disso, pergunte como a pessoa está se sentindo e o que você pode fazer para ajudar.
Não dê conselhos que não foram solicitados
Às vezes, mesmo frases bem intencionadas podem surtir efeito negativo. É importante respeitar o espaço e as escolhas de quem está doente. Embora com boas intenções, dar conselhos não solicitados pode ser visto como invasivo e desrespeitoso. A pessoa com câncer precisa de suporte e compaixão, e não de ser forçada a seguir conselhos que ela não solicitou. Em vez disso, respeite as decisões sobre o tratamento. Se a pessoa quiser compartilhar suas preocupações ou pedir conselhos, ela irá solicitá-los. Até lá, o melhor é oferecer ouvidos abertos e apoio emocional.
Não relativize o tipo de câncer que a pessoa tem dizendo que outro poderia ser pior
Cada pessoa é única e cada tipo de câncer é difícil de lidar, independentemente do prognóstico ou da gravidade. Além disso, fazer comparações pode minimizar o sofrimento e tornar a situação mais difícil. Ofereça apoio sem julgamentos ou comparações. E reconheça que a pessoa está enfrentando desafios únicos e difíceis.
Não recomende tratamentos sem eficácia comprovada
Além de não ajudar, essas recomendações podem atrapalhar o processo de cura. É importante seguir as recomendações médicas e tratar a doença de forma apropriada.
Existe uma grande quantidade de desinformações e soluções “caseiras” que são promovidas como curas para o câncer, mas muitas vezes esses tratamentos são ineficazes e até perigosos.
Ao recomendar um tratamento não comprovado, você pode estar colocando a saúde da pessoa em risco e distraindo-a de tratamentos que possam ser eficazes.
Ofereça apoio e amor incondicional. Escute sem julgamentos e esteja lá, para a pessoa, seja para conversar ou para ajudar de alguma forma prática.
O mais importante é ser uma presença positiva e acolhedora.
Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/letra-de-medico/o-que-nao-dizer-a-uma-pessoa-com-cancer/
11/02/2023
SAÚDE MENTAL - Borderline: entenda o diagnóstico do influencer Gustavo Tubarão
O mineiro Gustavo Almeida Freire, de 23 anos, ficou famoso na internet por mostrar a realidade da sua vida no campo. Hoje, o agroinfluencer acumula mais de 15 milhões de seguidores nas redes sociais. Ele foi o convidado desta semana no PodSempre, o podcast da Pague Menos que aborda temas como saúde, desafios, beleza, qualidade de vida e bem-estar. Lá, o jovem falou sobre sua trajetória profissional até os dias de hoje e os momentos difíceis vividos com a depressão, o passado com o uso de entorpecentes e, além disso, sobre o recente diagnóstico de transtorno de borderline.
Tubarão contou que recebeu o diagnóstico da condição em 2022 e que, por achar que o assunto é pouco tratado na internet, decidiu abrir o tema em suas redes. “Quando eu recebi o diagnóstico eu queria morrer. O borderline é um círculo que também é formado por depressão, ansiedade, pânico e déficit de atenção. Isso faz com que eu acorde cada dia de um jeito, sendo extremamente feliz ou extremamente triste. E para eu esquecer isso, penso que eu sou bem maior que meu laudo médico, pois eu já tinha aquilo, e com o acompanhamento do psiquiatra descobri o nome e ajuda para todos os sintomas que eu sentia. Hoje, eu gasto toda minha energia na academia para não ter mais crises como antes”, ressaltou. Transtorno de borderline
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é uma doença mental grave caracterizada por um padrão generalizado de instabilidade nas relações interpessoais, autoimagem e afeto. Além disso, a condição também é marcada por comportamentos impulsivos. Ela surge no início da idade adulta ou na adolescência, levando a grave comprometimento funcional e desconforto nas relações.
De acordo com o médico pós-graduado em psiquiatria, Dr. Vital Fernandes Araújo, uma das formas de identificar o transtorno é percebendo o padrão generalizado de instabilidade em várias áreas (relações interpessoais, autoimagem e afetos) associado à impulsividade acentuada. O especialista reforça que o borderline surge na adolescência ou início da idade adulta e pode ser reconhecido em vários contextos, geralmente com a ocorrência de cinco (ou mais) dos seguintes critérios:
1. Medo intenso do abandono, que os sujeitos tentam freneticamente evitar, seja real ou imaginário;
2. Tendência a ter relações interpessoais instáveis e intensas, que alternam entre extremos de idealização e desvalorização da outra pessoa; 3. Distúrbio de identidade, caracterizada por uma instabilidade marcada e persistente da autoimagem ou sentido do eu;
4. Impulsividade em pelo menos dois contextos potencialmente autodestrutivos (por exemplo, gastos, sexo, uso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar);
5. Comportamento suicida recorrente (gestos ou ameaças) ou automutilação;
6. Mudanças rápidas do humor levando à instabilidade afetiva – geralmente durando algumas horas e raramente mais do que alguns dias;
7. Sentimento de vazio persistente;
8. Dificuldade em controlar a raiva, que muitas vezes é inadequada ou excessiva (por exemplo, demonstrações frequentes de temperamento, raiva constante, brigas físicas recorrentes);
9. Pensamentos paranoicos transitórios e relacionados ao estresse ou sintomas dissociativos graves.
Aspectos de gravidade do borderline
O transtorno também pode apresentar apresentações variáveis, aponta o Dr. Vital. Isto é, mais comumente, causa instabilidade crônica no início da idade adulta. O resultado são episódios de grave descontrole afetivo e impulsivo, que exigem cuidados e intervenções frequentes, com taxas altas de suicídio (de 8 a 10%). “Crianças e adolescentes com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) apresentam taxas aumentadas de hospitalização por ideação ou tentativa de suicídio, comorbidades mais graves e pior funcionamento clínico e psicossocial, semelhante ao observado em adultos. Infelizmente, o diagnóstico e o tratamento do TPB são muitas vezes tardios, levando a um resultado menos favorável. Aliás, isso é especialmente verdadeiro em pacientes com TPB de início precoce (os mais jovens), nos quais a detecção e a intervenção terapêutica são geralmente atrasadas”, afirma o médico.
Tubarão também mencionou no podcast que, por conta da compulsão gerada pelo transtorno de borderline, já fez uso de entorpecentes. “Eu tive uma pré-overdose em 2017 e depois disso eu nunca mais usei. A última vez, eu usei 8 substâncias em um único dia e eu queria me jogar da janela porque comecei ter ataques de pânico durante alucinações. Foi o pior dia da minha vida. Depois desse dia eu nunca mais mexi com isso”, afirmou.
Diagnóstico e tratamento
Segundo o especialista, o diagnóstico do transtorno de borderline se baseia em quatro pilares: 1. Entrevista detalhada com o médico ou profissional de saúde mental; 2. Avaliação psicológica, que pode incluir o preenchimento de questionários; 3. Histórico médico e exames; 4. Avaliação dos sinais e sintomas.
“O tratamento de pacientes com esse deve começar com a revelação do diagnóstico e educação sobre o curso esperado e tratamento do transtorno.
Essa abordagem pode diminuir o sofrimento e estabelecer uma aliança entre o paciente e o médico. Além disso, o tratamento deve informar aos pacientes que existem terapias eficazes, que envolvem aprender a cuidar de si mesmo, e que os medicamentos têm apenas um papel coadjuvante”, esclarece.
O tratamento do borderline utiliza principalmente psicoterapia, mas medicações podem auxiliar. O médico também pode recomendar a hospitalização se a segurança do paciente estiver em risco. A reabilitação tem o objetivo de ajudar o paciente a aprender habilidades para gerenciar e lidar com sua condição. Também é necessário tratar qualquer outro transtorno de saúde mental que geralmente ocorre junto com o transtorno de personalidade bipolar, como depressão ou uso indevido de substâncias, por exemplo. “Com o tratamento, a pessoa pode se sentir melhor consigo mesma e viver uma vida mais estável e gratificante”, destaca o Dr. Vital.
Fonte: https://www.saudeemdia.com.br/saude-mental
04/02/2023
A Terapia Cognitivo-Comportamental e as crenças nucleares
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma psicoterapia empiricamente validada no tratamento de diversos transtornos mentais e foi desenvolvida por Aaron Beck, na década de 1960, como alternativa no tratamento de pessoas com depressão que não se beneficiavam do modelo psicanalítico. A TCC é baseada no modelo cognitivo, ou seja, a maneira como o indivíduo perceba a situação é mais importante que a situação em si. Assim, o objetivo do tratamento é ajudar o paciente a mudar padrões de pensamentos e de comportamentos disfuncionais. Promovendo essa mudança, o paciente pode experienciar melhora no seu estado de humor e de funcionamento.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental se utilizam, inicialmente, combinações de técnicas cognitivas ecomportamentais, além de integrações de técnicas derivadas de outros modelos terapêuticos, como a Gestalt Terapia, a Terapia Focada na Compaixão, o Mindfulness, a Resolução de Problemas, a Picodinâmica, a Entrevista Motivacional e a Psicologia Positiva. As intervenções que o psicoterapeuta irá fazer são orientadas para situações do cotidiano do paciente.
A relação terapêutica que é pregada na TCC envolve o “empirismo colaborativo”, que vem a ser a postura colaborativa do paciente e do terapeuta na busca de alternativas e soluções para as demandas trazidas à sessão. Esse conceito implica na postura ativa dos integrantes do processo terapêutico (paciente/terapeuta).
A TCC tem um cunho educativo, por meio da psicoeducaçào, que o terapeuta utiliza para educar o paciente sobre seu funcionamento, suas possíveis patologias, o seu tratamento, suas crenças e seus pensamentos automáticos. Isso infere numa cooperação da dupla e numa posição ativa do sujeito com seu tratamento. Quando “psicoeducado”, o paciente consegue monitorar e identificar pensamentos automáticos e distorções cognitivas. A TCC pode proporcionar redução de sintomatologia para pacientes em algumas semanas de tratamento, sem enquadramento único para a duração do tratamento, porque essa questão depende do engajamento do paciente, da psicopatologia, dos objetivos terapêuticos e do uso ou não de medicação. A TCC é sensível à duração do tratamento, sendo considerada uma psicoterapia breve. O objetivo do terapeuta da TCC sempre será a melhora do paciente, respeitando o processo, e o tempo individual do sujeito em relação a suas demandas. O objetivo final da TCC é a formação de uma autonomia duradora do paciente em relação a suas cognições e comportamentos.
O que são as crenças e como elas se formam?
As Crenças Nucleares, ou Centrais, são os entendimentos mais básicos das pessoas sobre elas mesmas, sobre o mundo, outras pessoas e o futuro.
Quando as pessoas apresentam condições psicológicas significativas, suas crenças tendem a ser disfuncionais, negativas, rígidas e generalizantes. Essas crenças são formadas durante o nosso desenvolvimento. Elas se formam baseadas no modo que nossos pais e familiares levam a vida, na nossa educação em casa e na escola, e no nosso convívio com outras pessoas, como amigos e desconhecidos. As experiências que vivemos ou deixamos de viver, como traumas durante nosso desenvolvimento, ajudam, também, na formação de nossas crenças centrais, ou nucleares.
São justamente essas crenças que atuam, que geram, nossos pensamentos sobre uma determinada situação. E por conta disso, podemos ter pessoas reagindo de maneiras completamente diferentes diante de uma mesma situação. Apesar que algumas pessoas possam ter crenças parecidas sobre algo, por conta de que cada um tem uma história e desenvolvimento únicos, nenhuma pessoa terá todas as crenças iguais. As crenças podem causar grande sofrimento para as pessoas, e elas lidam com isso desenvolvendo suposições, regras para viver para justificar as suas crenças. E então, desenvolvem estratégias compensatórias (comportamentos) para diminuir o encontro com essas crenças. Se um cliente tem uma crença por exemplo de ser um fracasso, ele pode desenvolver suposições de “Se eu falhar nas minhas tarefas, isso prova que sou fracassado” e assim desenvolver comportamentos perfeccionistas para como “tenho de fazer tudo perfeito, assim ninguém saberá que eu sou um fracassado”. As crenças podem ser divididas em 3 categorias ou esquemas: Desamparo, Desamor e Desvalor
Quando as pessoas têm crenças de desamparo, elas podem pensar que são incapazes de conseguir fazer as coisas, incapazes de protegerem a si mesmas (emocionalmente ou fisicamente) ou incapazes comparadas a outras pessoas. “Sou incapaz” “Não tenho jeito” “Não faço nada direito” “Sou vulnerável” “sou indefeso” “sou fraco” “não tenho controle” “sou um fracasso” “não sou bom como os outros”
Na crença de desamor, elas acreditam que há algo nelas que dificulta a habilidade delas de receber amor e intimidade que elas querem das outras pessoas. “Não me encaixo” “Sou desinteressante” “Não sou amável”
Na crença de desvalor, elas acreditam que são moralmente ruins, que há algo dentro delas que é simplesmente terrível. “Sou mal” “Eu não presto” “Sou ruim” “Sou tóxico” “Sou um perigo para os outros”
As crenças também podem ser sobre as outras pessoas, o mundo de maneira em geral e o futuro. “As mulheres são todas ruins” “o mundo é um lugar muito perigoso e incerto” “O futuro será muito ruim”.
Como em uma mesma situação, pessoas podem responder de maneiras completamente diferentes:
Baseado no exemplo acima:
A primeira pessoa tem um comportamento de ligar para outras pessoas para saber se aconteceu algo com o amigo que cancelou e provavelmente teve os sintomas fisiológicos da ansiedade como taquicardia e sudorese. A crença dessa pessoa sobre o mundo é de que o mundo é incerto e perigoso e que sempre que as pessoas desmarcam compromissos em cima da hora é por que algo sério aconteceu.
A segunda pessoa pode depois de sentir raiva ficar sem falar com o amigo e afetar a amizade dela. Ela considera que pessoas que fazem isso são sem educação e que é um desrespeito pois “isso não se faz”.
A terceira pessoa estava cansada, mas por ter combinado o jantar, não quis desmarcar. Não considerou nada ruim sobre a situação, remarcou com o amigo para outro dia e se sentiu aliviada por poder então descansar.
A quarta pessoa tem uma crença de que ela não é muito amável e que os outros não gostam dela. Assim, quando desmarcam algo, ela “comprova” isso pois “quando as pessoas desmarcam compromissos é porque não gostam das pessoas que marcaram”, fica então triste e chora.
Como vimos, a Terapia Cgnitivo-Comportamental é uma intervenção psicossocial que visa a melhorar a saúde mental. Originalmente, A TCC foi projetada para tratar a depressão, mas seu uso foi expandido para incluir o tratamento de várias outras condições de saúde mental. Ela foi criada em meados da década de 1950, pelo Dr. Aaron Beck, eminente psicanalista, professor de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, nos EUA. O modelo é baseado na combinação dos princípios básicos da psicologia comportamental e cognitiva. É diferente das abordagens históricas da psicoterapia, como a abordagem psicanalítica, por exemplo. A terapia cognitivo-comportamental é uma forma de terapia focada no problema e orientada para a ação.
Fontes: https://www.falcoericci.com.br/ https://www.wainerpsicologia.com.br/site/
Tenho um psicodiagnóstico: TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), e agora?
O que é o Transtorno Afetivo Bipolar?
De acordo com a psicóloga Cláudia Memória, da Nilo Saúde, trata-se de uma doença crônica caracterizada pela variação intensa e desproporcional do humor (entre polos de mania e depressão), podendo haver (ou não) um fator estressor relacionado. A fase de mania pode começar com a sensação de aumento da energia, criatividade e sociabilidade, mas segundo a psicóloga, é mais comum o aparecimento de irritação, impaciência e convicção sobre os próprios pontos de vista. “Nesse estado, a autocrítica costuma estar reduzida, levando a comportamentos impulsivos ou mesmo raivosos. Por outro lado, na fase depressiva, os sintomas mais comuns são tristeza, falta de energia, perda do prazer, alteração do apetite, insônia ou excesso de sono, perda da concentração, redução da libido, isolamento social, lentidão ou agitação motora, pensamento de culpa, falta de esperança e ideação suicida”, afirma. “Usualmente, o transtorno bipolar não devidamente tratado gera impactos ocupacionais, familiares e pessoais. A intensidade, a frequência e o tempo de cada episódio de humor varia muito de uma pessoa para a outra”, explica a psicóloga. Se você ainda tem dúvidas sobre o que é o transtorno, eis uma breve explicação. O transtorno bipolar é uma condição que provoca oscilações de humor no indivíduo. No entanto, elas são exageradas, pois se alternam entre momentos de euforia, com picos de energia, e fases de extrema depressão. Tais picos ocorrem subitamente, mas a duração é imprecisa. De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), cerca de 6 milhões de pessoas apresentam o transtorno. Contudo, o diagnóstico do transtorno bipolar pode demorar anos – até a descoberta, o paciente enfrenta diversas dificuldades para levar uma vida normal. Por esse motivo, o número de indivíduos com TB pode ser maior do que o estimado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o transtorno bipolar é a sexta causa mais comum de incapacidade entre os adultos jovens, e os momentos depressivos parecem ser os que mais trazem prejuízos. Muitos indivíduos podem ficar perdidos, ou até mesmo abalados, após receberem o diagnóstico da doença. “Como ela afetará a minha vida?”, “será que entenderão o que eu passo?” e “o que acontecerá no trabalho?” são, por vezes, questões recorrentes. “No nosso país, existe uma brecha de cerca de dez anos entre o início dos sintomas e a identificação do transtorno. O autocuidado na fase depressiva encontra-se mais afetado, levando ao adiamento da busca por ajuda. Por outro lado, na fase hipomaníaca, a pessoa sente-se muito bem. Logo, não percebe possíveis prejuízos”, diz Cláudia Memória. Somam-se a isso os estigmas e os rótulos associados aos transtornos mentais, que dificultam ainda mais a aceitação. Contudo, a boa notícia é que o tratamento correto pode fazer toda a diferença na qualidade de vida do paciente, uma vez que ajuda a amenizar os sintomas e adiar as crises, fazendo com que elas fiquem cada vez mais espaçadas (os chamados períodos de eutimia).
Importância do tratamento
O manejo do transtorno afetivo bipolar envolve abordagens tanto farmacológicas, com o uso de medicamentos estabilizadores de humor para controlar e prevenir os episódios de mania e depressão; quanto psicoterápicas, nas quais o paciente aprende a lidar com os sintomas e recebe informações sobre o seu quadro. Além disso, pode haver a necessidade de tratar transtornos psiquiátricos associados e até comorbidades. A especialista também reforça a importância de manter bons hábitos de vida, já que muitos deles impactam diretamente no transtorno. “Vale tentar manter horários regulares para dormir, visto que uma redução na quantidade de horas de sono pode precipitar ou sinalizar uma alteração no humor.”
Papel de amigos e familiares
Mesmo seguindo o tratamento à risca, muitos pacientes ainda sentem dificuldade em lidar com o transtorno afetivo bipolar. Nesses casos, contar com uma boa rede de apoio é essencial — seja para acompanhar o indivíduo nas consultas médicas, auxiliar no bom relacionamento com a equipe de tratamento ou mesmo para estar ao lado. Outra alternativa interessante diz respeito à psicoeducação: encontros (individuais ou em grupos) nos quais são oferecidas informações e é dado o suporte para pacientes e seus familiares. O objetivo é garantir que eles tenham bons recursos para lidar com a doença por meio de trocas de experiências. De acordo com a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos), a emoção expressa de forma descontrolada muitas vezes estressa o ambiente familiar e causa conflitos constantes. Todos, incluindo o paciente, podem trabalhar para que as relações sejam mais empáticas e tranquilas, observado:
O foco das conversas deve estar nas melhoras, sem dar ênfase aos problemas;
Valorização dos pequenos progressos, mesmo que mínimos;
A evolução do quadro depende também de mudanças consistentes e contínuas nas relações familiares;
É extremamente necessário que a família também procure ajuda — afinal, a saúde mental dos cuidadores não deve ser negligenciada;
O indivíduo com o transtorno pode contribuir evitando o abuso de álcool e outras drogas e seguindo o tratamento correto.
Fonte: Espaço Vitat ( https://vitat.com.br/tenho-transtorno-bipolar/ )
30/01/2023
Maternagem e o conceito de mãe suficientemente boa na teoria winnicottiana - Germano Barbosa
De acordo com Winnicott, a mãe suficientemente boa é aquela que consegue atender às necessidades básicas do bebê, de maneira adequada, como na alimentação, no conforto e na segurança. Além disso, ela também permite que o bebê experimente frustrações e separações temporárias, o que é fundamental para o desenvolvimento de uma identidade autônoma.
Winnicott também destacou a importância do espaço intermediário entre a mãe e o bebê, para que a criança possa experimentar a sensação de ser independente, mas ainda se sentir amparada pela mãe. O espaço intermediário se refere ao lugar físico e psicológico, no qual a criança e seus objetos de amor, como os pais, se relacionam. Nesse lugar intermediário, ocorre o processo de desenvolvimento da identidade. Este espaço permite que a criança experimente e brinque com a realidade, além de sentir segurança e confiança na relação com os objetos de amor. É um ambiente protetor, que favorece a criatividade e a formação de uma identidade sólida, e é fundamental para que a criança desenvolva sua imaginação e sua criatividade.
Para Winnicott, a mãe não precisa ser perfeita, para ser suficientemente boa. Ela deve, sim, ser capaz de lidar com suas próprias frustrações e dificuldades, de maneira saudável, a fim de poder proporcionar ambiente seguro e estável para o bebê. Em resumo, a teoria de Winnicott sobre maternagem e mãe suficientemente boa destaca a importância da relação entre a mãe e o bebê, para o desenvolvimento saudável da criança. A mãe suficientemente boa é aquela que consegue atender às necessidades básicas do bebê, permitir frustrações temporárias e criar um espaço intermediário seguro. Sim, essa é uma boa definição de uma “mãe suficientemente boa". Além disso, a mãe suficientemente boa também deve proporcionar amor e afeto, estabelecer limites claros, ser consistente em seu comportamento e fornecer orientação e apoio ao crescimento e desenvolvimento do bebê.
Portanto, a ideia da mãe suficientemente boa é justamente equilibrar frustração e satisfação dos desejos da criança, de maneira saudável, estabelecendo limites e ensinando a criança a lidar com a frustração, mas, também, ser sensível aos seus desejos e necessidades. Ao fazer isso, a mãe contribui para o desenvolvimento da resiliência e da autoconfiança da criança, ajudando-a a tornar-se uma pessoa saudável, capaz de lidar com as adversidades da vida.
Desertificação tem jeito - Germano Barbosa
A região Nordeste do Brasil é uma das mais afetadas pela desertificação, com mais de 60% de seu território já degradado. Esse processo leva à perda da capacidade de produção agrícola, redução da biodiversidade e aumento da vulnerabilidade das populações locais aos impactos das mudanças climáticas.
A principal causa da desertificação no Nordeste é a exploração excessiva dos solos para agricultura, pecuária e mineração. A falta de práticas de conservação do solo, como o uso de técnicas agrícolas sustentáveis e a proteção das áreas de preservação permanente, agrava ainda mais o problema.
Outra causa importante é a mudança climática, que tem intensificado as secas na região e prejudicado a agricultura. A falta de infraestrutura adequada, como sistemas de irrigação, também contribui para a desertificação, já que dificulta a adaptação às condições climáticas adversas.
Para combater a desertificação no Nordeste, é necessário implementar medidas de conservação do solo, como a promoção de práticas agrícolas sustentáveis, a proteção das áreas de preservação permanente e a implementação de sistemas de irrigação. Além disso, é fundamental investir em tecnologias que possibilitem a adaptação às mudanças climáticas, como o uso de sementes resistentes à seca e o desenvolvimento de sistemas de captação de água de chuva.
A educação ambiental também é importante, pois ajuda a conscientizar a população sobre a importância da preservação do solo e a adotar práticas sustentáveis.
Em resumo, a desertificação no Nordeste brasileiro é um problema sério que afeta a produção agrícola, a biodiversidade e a segurança alimentar da região.
Para lidar com esse problema, é importante implementar soluções eficazes e duradouras, como:
• Reflorestamento: Plantar árvores ajuda a restaurar a cobertura vegetal e a proteger o solo contra a erosão. Além disso, as árvores podem fornecer madeira e outros recursos valiosos para as comunidades locais;
• Adoção de práticas agrícolas sustentáveis: As práticas agrícolas intensivas, como o monocultivo, podem degradar o solo e contribuir para a desertificação. Alterar para práticas agrícolas mais sustentáveis, como agricultura de conservação, pode ajudar a preservar o solo e a água;
• Gerenciamento de recursos hídricos: A gestão adequada dos recursos hídricos é vital para combater a desertificação. Isso inclui a construção de barragens, canais de irrigação e sistemas de captação de água da chuva;
• Educação e conscientização: A educação e conscientização das comunidades locais sobre a importância da preservação dos recursos naturais é fundamental para combater a desertificação a longo prazo;
• Parcerias público-privadas: As parcerias entre o setor público e o privado podem ajudar a alocar recursos e tecnologias para combater a desertificação no Nordeste brasileiro. Implementar essas soluções requer ação e colaboração, em níveis local, nacional e internacional. É importante agir agora, para preservar o meio ambiente e garantir um futuro sustentável para as comunidades da região Nordeste do Brasil.
18/01/2023
Melancolia e suicídio: uma articulação freudiana - Marcos Vinicius Brunhari/Vinicius Anciães Darriba*
16/01/2023
O cemitério de Jorge Amado
08/01/2023
Psicopatia - Transtorno da Personalidade Antissocial
Mulheres
contam como é viver com o distúrbio
Psicopatia é uma condição que
especialistas tratam como mal compreendida.
Por Megha
Mohan, da BBC
A psicopatia é geralmente associada
aos homens, particularmente aos criminosos, e é muito pouco
estudada nas
mulheres — Foto: SOMSARA RIELLY
A
psicopatia é uma condição que condena e fascina muitas pessoas, mas o estigma
profundamente arraigado em volta dela indica que o distúrbio ainda é mal
compreendido — especialmente quando afeta as mulheres.
Victoria sabia que seu namorado tinha uma esposa, mas, depois de alguns
anos, ela começou a suspeitar que ele tivesse outras amantes.
Ela não tinha provas, mas a linguagem corporal do namorado o denunciava,
segundo ela. Suas histórias não faziam sentido. Seu rosto parecia diferente
quando ele mentia.
"Acontece que tenho excelente memória quando se trata de
conversas", ela conta. "Ele não sabia mentir bem. Não sei como a
esposa dele nunca o desmascarou."
Diversas formas de punição surgiam na mente de Victoria, até que ela se
decidiu por uma delas. Levaria algum tempo e ela precisaria agir como se não
soubesse de nada. Foi assim que, por vários meses, Victoria continuou a vê-lo,
mas enviava fotos do seu namorado nu para a esposa dele.
Perturbado, ele procurou Victoria, se perguntando quem poderia estar
enviando essas fotos. Sua esposa estava arrasada. Ele confessou a Victoria que,
de fato, estava dormindo com outras mulheres. E não suspeitou que era Victoria
quem estava enviando as fotos.
Quando Victoria se cansou de tudo e quis terminar o relacionamento, ela
enviou à esposa do namorado uma coleção final de fotografias. Na última imagem,
a própria Victoria aparecia junto ao homem. Com essa revelação explosiva,
Victoria saiu da vida deles para sempre.
Quando Victoria contava esta história para as pessoas, sua petulância as
espantava.
"Elas me perguntavam 'por que você fez isso com a esposa dele? O
que a esposa dele fez para merecer isso? O que ela fez para magoar
você?'", ela conta. "E eu pensava, 'bem, a vida é injusta'."
Ela faz uma pausa.
"Acho que este é um bom exemplo de uma característica psicopata
extrema que eu costumava ter. Indiferença."
Mulheres com psicopatia costumam
exibir menor tendência à violência que os homens e mais manipulação interpessoal
— Foto: SOMSARA RIELLY
A definição da psicopatia
A psicopatia não é um diagnóstico oficial de saúde mental e não está
presente na mais recente edição do Manual Estatístico e de Diagnóstico de
Distúrbios Mentais. Ela está agrupada sob a classificação mais ampla de
distúrbio da personalidade antissocial, embora a psicopatia seja amplamente
usada em ambientes clínicos em todo o mundo.
Ela é entendida como sendo um distúrbio neuropsiquiátrico, em que uma
pessoa exibe níveis anormalmente baixos de empatia ou remorso, muitas vezes
resultando em comportamento antissocial e, às vezes, criminoso.
O termo foi usado por médicos europeus e americanos no início dos anos
1900 e tornou-se comum em 1941, após a publicação do livro The Mask of Sanity ("A máscara da
sanidade", em tradução livre), do psiquiatra norte-americano Hervey M.
Cleckley.
"Os principais acadêmicos do mundo vêm debatendo a definição da
psicopatia", segundo a psicóloga e neurocientista Abigail Marsh, da
Universidade de Georgetown em Washington D.C., nos Estados
Unidos. "Você terá explicações muito diferentes da psicopatia,
se falar com um psicólogo forense ou criminologista."
Marsh afirma que os psicólogos criminalistas tendem a classificar as
pessoas como psicopatas somente se exibirem comportamento extremo e violento.
Mas, para ela, a condição se apresenta na forma de espectro com outros
comportamentos menos dramáticos, que podem variar de uma pessoa para outra.
Os psicólogos e psiquiatras, de forma geral, concordam que uma ou duas a
cada 100 pessoas, na população em geral, atendem ao critério de psicopatia. Mas
Marsh afirma que até 30% das pessoas exibem algum grau de características
psicopatas na população em geral.
Para as pessoas com psicopatia, isso pode significar que elas têm
dificuldades para manter amizades próximas e se colocam em situações de risco,
mas a condição também é prejudicial para as pessoas à sua volta.
"Muitas vezes, ter por perto uma pessoa insensível ou manipuladora
é devastador e cansativo para as pessoas que vivem com alguém com psicopatia
extrema", afirma Marsh.
Ela afirma que a maioria dos estudos referentes às pessoas com
psicopatia tem sido conduzida com criminosos. Alguns desses estudos indicam que
os psicopatas — ou as pessoas que exibem características psicopatas—
representam um número desproporcional de pessoas na prisão, embora existam
controvérsias sobre sua real incidência.
De forma geral, as pesquisas indicam que a incidência de psicopatia é
maior entre os criminosos homens (representando talvez 15 a 25% dos
prisioneiros) do que entre as mulheres (10 a 12%).
Mas este ainda é um campo pouco estudado na população em geral e ainda
menos pesquisas são realizadas com mulheres.
As mulheres com psicopatia
Embora diversos estudos indiquem que a incidência da psicopatia é maior
entre os homens do que entre as mulheres, Marsh argumenta que isso pode se
dever, em primeiro lugar, à forma em que os exames foram idealizados.
"As escalas iniciais de psicopatia foram principalmente
desenvolvidas e testadas na população prisional de homens na Columbia Britânica
[no Canadá] por Bob Hare", afirma ela.
O psicólogo canadense Robert Hare desenvolveu a Lista de Controle da
Psicopatia (agora chamada PCL-R) nos anos 1970 e uma versão revisada é
frequentemente considerada o padrão-ouro global para o teste de características
psicopatas. Ela é agora a ferramenta de diagnóstico validada e mais
frequentemente empregada para determinar a psicopatia.
A PCL-R mede a escala de desconexão emocional que alguém pode ter, tal
como sua disposição de manipular alguém até um resultado desejado,
independentemente das consequências, bem como seu comportamento antissocial,
como escolhas agressivas ou impulsivas que podem ser violentas ou envolver o
abandono abrupto das responsabilidades.
- 'Fui acusada de tentar matar minha mãe até ser diagnosticada
com síndrome pré-menstrual grave'
- 'Nossas mentes estão programadas para ter prazer com o
sofrimento dos outros': psicóloga explica a lógica dos assassinos e
criminosos
"Adaptações dessa escala são utilizadas hoje em dia em amostras não
institucionalizadas, incluindo mulheres e crianças em diversos países, mas
permanece aberta a questão de se você usaria essas mesmas questões para começar
se fosse lidar com mulheres não criminosas", afirma Marsh.
Uma análise dos pesquisadores em 2005 também comparou características
centrais de mulheres e homens com psicopatia. Eles indicaram que as mulheres,
muitas vezes, exibiam características como impulsividade debilitadora (como
falta de planejamento), falsidade nos relacionamentos interpessoais e agressões
verbais.
Por outro lado, os pesquisadores concordaram que a psicopatia nos homens
tende a se manifestar com violência e agressões físicas. Mas, na época, elas
indicaram que não haviam sido realizadas pesquisas suficientes sobre o motivo
para isso. E, 17 anos depois, não houve grandes mudanças.
A estudante de PhD de psicologia da Universidade de Madri, na Espanha,
Ana Sanz García e seus colegas realizaram uma análise mais recente, em 2021, de
estudos de pesquisa publicados, que avaliaram mais de 11 mil adultos para
determinar psicopatia. Ela concorda que são necessários mais estudos
concentrados nas mulheres e em pessoas não criminosas com psicopatia.
Sanz García afirmou à BBC que os estudos até hoje demonstram que as
mulheres com psicopatia exibem menos propensão à violência e ao crime do que os
homens, mas existem mais exemplos de manipulação interpessoal.
"Seria interessante estudar os fatores que explicam por que, entre
as mulheres com alto grau de psicopatia, existe menor probabilidade de cometer
atos criminosos e antissociais do que entre os homens", afirma ela.
"Se esses fatores forem descobertos, será possível criar um programa para
evitar que homens e mulheres com alto grau de psicopatia cometam esses atos
antissociais e criminosos."
influenciem a psicopatia. — Foto: SOMSARA RIELLY
Também neste caso, não há pesquisas suficientes para determinar os
motivos, mas um estudo recente na França indica uma possível resposta: a frieza
e a falta de emoção parecem desempenhar um papel mais central na psicopatia
feminina do que entre os homens. E as mulheres também exibem menos comportamentos
violentos e antagonistas que na psicopatia masculina.
Manipulação como entretenimento
Victoria afirma que o seu comportamento manipulador começou a surgir
como forma de entretenimento próprio.
Ela nasceu na Malásia, em uma família de classe média. O alcoolismo do
seu pai e a falta de responsabilidade pessoal pelas consequências da bebida
tornaram seu lar infeliz.
Ela teve sucesso nos estudos, mas se sentia frequentemente aborrecida.
Para se divertir, ela gostava de passar adiante informações confidenciais que
recebia das pessoas, segredos que ela havia jurado guardar. Quem odiava quem.
Quem gostava de quem.
As tensões entre os alunos no ensino médio, muitas vezes, eram causadas
por ela. Victoria sabia manipular os outros para que assumissem a responsabilidade
pelos erros que ela cometeu e sabia o que dizer para se livrar de problemas.
Ela chegou a convencer uma professora de que tinha atirado um giz nela apenas
por pressão dos colegas.
"Era o que ela queria ouvir", ela conta. "Ela queria
acreditar que aquela menina inteligente não era ruim, apenas facilmente
influenciável."
Mais recentemente, Victoria estava obtendo ajuda para controlar seus
impulsos. Mas ela também encontrou apoio, embora possa parecer estranho, de
pessoas como ela.
Pergunto a ela sobre diversos vídeos recentes conhecidos como "o
desafio do psicopata", que viralizaram no TikTok, somando mais de 20
milhões de visualizações. Eles discutem como os espectadores podem "identificar
um psicopata".
A hashtag "psicopata" é uma das mais populares naquela rede
social, com mais de dois bilhões de visualizações. Ela é usada para marcar
diversos assuntos, incluindo imagens de pessoas com psicopatia em julgamentos,
e também é usada como insulto para maus comportamentos.
O que fica claro é que pessoas acham o tema da psicopatia e seus
portadores, ao mesmo tempo, fascinantes e repulsivos.
Victoria não acha esses vídeos ofensivos.
"Parte de ser psicopata é não se importar com o que as pessoas
pensam, de forma que isso não me aborrece", afirma ela. "Mas mostra a
pouca compreensão das pessoas sobre o espectro completo da condição."
A exceção, para ela, são os vídeos que discutem se as pessoas com
psicopatia são mais propensas a maltratar os animais. "Muitos de nós
preferimos animais aos seres humanos", afirma ela, secamente.
Sociopata ou psicopata?
O que Victoria indica como "nós" é uma comunidade online de
mulheres como ela. Ela está concentrada principalmente no blog da escritora M.
E. Thomas, talvez uma das mais conhecidas mulheres com psicopatia. A avaliação
de psicopatia de Thomas, realizada pelo psicólogo forense John Edens, da
Universidade A&M do Texas, nos Estados Unidos, foi de 99%.
O blog de Thomas, intitulado Sociopath World,
detalha como é a vida com psicopatia. Ela afirma que usava a palavra sociopata
em vez de psicopata porque achava que era um termo que seria compreendido por
mais pessoas.
Sociopatia não é um termo clínico amplamente aceito, e psicólogos como
Abigail Marsh afirmam que, às vezes, ele é usado por indivíduos que podem
sentir o estigma relacionado à palavra "psicopata".
Um agente literário descobriu o blog de Thomas e ofereceu um contrato
para um livro. Confessions of a Sociopath: A Life Spent
Hiding in Plain Sight ("Confissões de uma sociopata: uma
vida passada escondendo-se à vista de todos", em tradução livre) foi
publicado em 2012 e traduzido para mais de 10 idiomas. Um filme baseado no
livro, estrelado pela atriz norte-americana Lisa Edelstein, está atualmente em
produção.
"Vejo-me como uma fórmula, não como uma pessoa", afirma
Thomas. "É como ser uma planilha do Excel, onde examino o que faço e digo
calculando o possível resultado."
Um exemplo pode ser dizer a alguém que ela o ama quando quer algo dele,
afirma Thomas. Ela conta que já fez isso algumas vezes e gerou o rompimento de
vários relacionamentos.
Um estudo de 2012 da Universidade de Zurique, na Suíça, também descobriu
que a risada é frequentemente usada pelas pessoas psicopatas como instrumento
intencionalmente manipulador. Ela as ajuda, por exemplo, a controlar a
conversa. Ou, às vezes, a rir da pessoa com quem estão falando - e não com ela.
Thomas afirma que seu agente a instrui a não usar a palavra
"manipuladora" quando falar sobre si mesma, mas sim dizer que sabia
como influenciar as pessoas desde a infância. Mas "manipuladora" é a
palavra que ela usa. Ela afirma que essa qualidade a ajudou a tornar-se uma boa
advogada, que ainda é a sua profissão.
Quando ela fala, as pessoas não conseguem identificar seu sotaque. Elas
acham que Thomas pode ser de Israel ou
da Europa oriental, embora ela tenha vivido toda a
sua vida na Califórnia.
"Você tem sotaque quando se socializa para ter identidade. Eu nunca
tive identidade", ela conta. "Tenho um sentido muito fraco de mim
mesma."
Possíveis benefícios?
No seu blog, M.E. Thomas compartilha seus pensamentos diários e
entrevista outras pessoas que vivem com características psicopatas. Ela conta
que muitos dos seus leitores encontram refúgio nas suas postagens e vídeos,
pois é um lugar onde elas reconhecem seus próprios padrões e compartilham
experiências sem que sejam julgadas por isso.
maioria dos estudos — Foto: SOMSARA RIELLY
Uma de suas leitoras é Alice, uma mulher alemã de 27 anos de idade. Ela
afirma que é frustrante ler artigos ou assistir a ilustrações de pessoas com
psicopatia como indivíduos maldosos que precisam ser evitados. "Nós
existimos em uma escala, como todos os demais", afirma ela.
Como Thomas, Alice é agradável à primeira vista, talvez porque ela sorri
muito. Ela admite desde o início que está imitando o que ela sabe ser
socialmente adequado.
Alice vem fazendo isso por toda a vida. Quando sua avó morreu, ela observou
o luto da sua irmã e copiou seu comportamento.
Ela afirma que também finge ser sarcástica, pois isso permite que ela
diga impunemente o que tem na mente, sem causar alarme.
Alice aprendeu isso já aos 12 anos de idade, quando estava de férias em
um navio e se perguntou em voz alta como seria observar as pessoas afundarem em
caso de acidente. A reação dos seus pais e amigos a ensinou que era importante
enquadrar esse tipo de pensamento como humor ácido e não como um pensamento
obscuro.
Embora Thomas descreva sua característica psicopata dominante como
manipulação e Victoria afirme que sua marca é a indiferença, Alice aponta sua
falta de empatia como sua característica mais evidente.
"Não tenho nenhuma empatia emocional, mas tenho muita empatia
cognitiva", afirma ela, com sorriso inabalável. "Se alguém se
machucar, por exemplo, ferir o joelho ou quebrar um braço, posso não sentir
nada por eles emocionalmente, mas sei que preciso conseguir ajuda e assim o
faço."
E isso, segundo ela, faz com que ela seja uma boa pessoa para ter por
perto em situações de emergência.
"As pessoas me contam seus problemas e não fico ofuscada pelas
emoções, de forma que aquilo não me afeta e posso ouvi-las e oferecer conselhos
racionais", ela conta. "Outras pessoas podem querer se distanciar
porque aquilo aciona suas próprias emoções, mas isso não acontece comigo."
Alice não é a única que acredita que suas características podem ser
benéficas para a sociedade. Os traços "positivos" da psicopatia são
explorados pelo psicólogo Kevin Dutton, da Universidade de Oxford, no Reino
Unido, no seu livro A Sabedoria dos Psicopatas: O
que Santos, Espiões e Serial Killers Podem nos Ensinar sobre o Sucesso (Ed.
Record, 2018).
Em 2011, Dutton conduziu uma pesquisa no Reino Unido intitulada "A
Grande Pesquisa sobre os Psicopatas Britânicos". As profissões onde as
pessoas mais exibiam características psicopatas foram os altos executivos,
jornalistas, policiais, militares, cirurgiões e advogados.
Dutton argumenta que certas características de personalidade do espectro
psicopata - incluindo a frieza sob pressão e reações menos empáticas às
interações interpessoais - podem ajudar as pessoas a realizar seu trabalho sem
que sejam, como diria Alice, "ofuscadas".
É preciso apoio e desmistificação
"Todos conhecemos alguém com características psicopatas",
afirma Marsh, que é uma das fundadoras da organização Psycopathy Is. Ela oferece uma das poucas plataformas
online que fornecem apoio para psicopatas e pessoas próximas.
Marsh afirma que seu objetivo é desmistificar a psicopatia e fornecer
ferramentas de seleção para que as próprias pessoas possam se avaliar, com
instrumentos confiáveis, e conseguir boas informações sobre o que fazer em
seguida.
"A psicopatia não é uma categoria, é um espectro", afirma ela.
"Ela é distribuída entre a população em graus variáveis. Algumas pessoas
causam destruição contínua e outras precisam apenas administrar os seus
sintomas."
"Quando não discutimos isso abertamente, as pessoas se lembram de
Ted Bundy e Hannibal Lecter [assassinos em série - o primeiro, real, e o
segundo, da ficção]", afirma ele. "E então vemos tendências do TikTok
preenchendo a lacuna de informações de especialistas."
Muitos especialistas, incluindo Marsh, acreditam que está na hora de
desfazer os mitos e o estigma que envolvem a psicopatia.
As causas subjacentes da psicopatia ainda são mal compreendidas, embora
cada vez mais pesquisas de imagens neurológicas venham ajudando a indicar
algumas das possíveis anormalidades do cérebro que podem explicar os sintomas.
Pesquisas indicam, por exemplo, que homens com psicopatia possuem reação
reduzida em regiões do cérebro relacionadas ao processamento do medo e que
existem indicações de que efeitos similares podem ser encontrados nas mulheres.
Alguns pesquisadores também indicaram diferenças no circuito neural das
amígdalas cerebelosas, uma estrutura importante do cérebro responsável pelo
processamento das emoções. Mas, como a maior parte das pesquisas sobre psicopatia,
essas conclusões estão longe de ser consistentes e ainda precisam ser mais
estudadas.
A genética e o ambiente das pessoas também são peças importantes do
quebra-cabeça. Mas Marsh acredita que conseguir essas respostas exigirá que a
sociedade como um todo desenvolva uma relação mais madura com a psicopatia.
"Eu realmente admiro o que a comunidade de pesquisa sobre o autismo
fez nos anos 1990", afirma ela. "Eles decidiram se libertar do
estigma, dizendo às pessoas a verdade sobre a condição. Que é um distúrbio de
espectro."
"Nós, como pesquisadores de psicopatia, precisamos definir uma
abordagem para realmente nos atirarmos ao desenvolvimento de melhores
intervenções que possam ajudar as pessoas com psicopatia a viver vidas
produtivas e prósperas", defende Marsh.
Mas ela acrescenta que, até que isso aconteça, estamos fracassando com
as pessoas com psicopatia.
"Isso significa que as pessoas - pessoas com o distúrbio, seus
amigos e sua família - não estão conseguindo o apoio de que precisam",
afirma ela. "E isso prejudica a todos."
Victoria, Alice e M. E. Thomas usam a meditação, terapia psicológica e
apoio de colegas da sua comunidade online para ajudar a controlar o seu
distúrbio.
"Não estar nas sombras ajuda", afirma Thomas. "Mas ainda
existe um estigma para a palavra 'psicopata'. Ainda há muito trabalho a fazer e
é preciso ter muitas conversas mais abertas. A realidade é que nós
existimos."
Características da psicopatia
Segundo o site PsychopathyIs.org (que
teve como uma de suas criadoras a psicóloga e neurocientista Abigail Marsh, da
Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos), estas são algumas das
principais características que se manifestam em casos extremos de psicopatia:
- Abordagem egoísta e indiferente aos
relacionamentos interpessoais.
- Falta de empatia sobre o sofrimento ou
angústias dos demais.
- Falta de demonstração de remorso depois de
machucar os outros ou desobedecer regras.
- Pouco sentido de identidade consigo próprio.
- Manipulação das pessoas para conseguir as
coisas.
- Dedicação a atividades perigosas ou arriscadas.
- Charme superficial.
Megha Mohan é jornalista especializada em gênero e identidade, da BBC.
Essa reportagem foi originalmente publicada em http://news.bbc.co.uk/1/hi/63732969.stm